Uma região linda, cheia de história e com vinhos maravilhosos. Châteauneuf-du-Pape é uma região que ficou muito famosa por conta do papado e pelo seu estilo de vinho.
Quando o assunto é vinho, a França é o país mais complexo para os amantes da bebida. Muitas denominações, regiões cheias de sub-regiões, muitas uvas e uma das mais importantes dificuldades, que até mesmo os enófilos encontram, é o estilo do vinho. O vinho francês tem uma característica que afastou o consumidor durante anos. A falta de informações nos rótulos como, por exemplo, o nome das uvas que nunca eram mencionados e a frase “o vinho francês é caro” também afastaram os novos consumidores. Por ser uma região de clima mais quente, seus vinhos trazem características mais fáceis de beber e um paladar mais parecido com os vinhos do novo mundo, dando um grande destaque e fama à região.
A Região
A região em que Châteauneuf-du-Pape está situada é o Rhône, bem ao sul, fazendo fronteira com outra região famosa chamada Languedoc-Roussillon. Mas na verdade Châteauneuf está mais para o Languedoc do que para o Rhône.
É uma região que tem um solo muito específico e diferente, e que faz uma diferença incrível no vinho. O solo é chamado de “galets” em francês e se refere às pedras redondas, que em português são chamadas de seixos rolados, semelhantes àquelas pedras redondas que encontramos em cachoeiras. Onde hoje temos vinhedos plantados, antigamente havia o leito de um rio. Essas pedras absorvem o calor durante o dia passando para os vinhedos durante a noite. O famoso solo de seixos representa uma pequena parte dos vinhedos sendo muito mais comum solos de areia e argila. Além dos seixos, outros tipos de solo fazem parte da região.
As uvas permitidas nesta denominação são muitas e poucos produtores usam todas. Das 18 uvas autorizadas, são três as principais: a Grenache (que é responsável pela maior quantidade nos vinhos), a Syrah e a Mourvèdre. Outras uvas entram no corte em proporção menor, são elas: Cinsault, Counoise, Vaccarèse, Picpoul Noir, Picpoul Gris, Terre Noir, Grenache Gris, Muscardin essas variedades tintas e Grenache Blanc, Clairette, Clareitte Rosé, Picpoul Blanc, Bourboulenc, Roussanne e Picardan, todas as variedades brancas.
Mais um fato importante na região é o vento Mistral. Ele é classificado como “vento catabático”, que é definido como um vento que transporta ar de alta densidade que desce das encostas de uma montanha. É um vento frio, seco e que também é um protetor natural das vinhas, não permitindo o ataque de pragas nos vinhedos.
A produção da região é quase toda destinada aos tintos, mas os brancos também se encontram por lá, já que tem muitas variedades brancas plantadas na região. Geralmente são usadas nos tintos em pequenas proporções para conferir uma acidez que por vezes falta ao vinho.
Os vinhos da região são muito alcóolicos e a graduação mínima permitida para AOC (apelação de origem controlada) são 12,5% de volume alcóolico, mas é fácil encontrar vinho com 14 ou 15% de álcool.
A História de Châteauneuf-du-Pape
A história da viticultura da região pode ter ficado famosa com o papado, mas muito antes já se plantava uvas na região. Os primeiros registros remontam ao século XII, mas a relação com os papas começou em 1309, sendo o nome Châteauneuf-du-Pape oficializado somente em 1893.
Em 1303 o rei Felipe IV (rei da França) usava os recursos da igreja para manter suas guerras. Em desacordo com os interesses da igreja, o papa Bonifácio VIII proibiu que fossem usados esses recursos. O rei, por sua vez, proibiu a igreja francesa a repassar o dinheiro para a sede em Roma.
Após a morte do papa Bonifácio VIII, um novo papa foi eleito, mas também faleceu pouco tempo depois. Tal condição permitiu que a sede da igreja católica permanecesse em Avignon por 67 anos, até um novo papa francês ser eleito. O papa Clemente V achou melhor que a sede da igreja católica de Roma fosse transferida para Avignon e a transferiu no ano de 1309, permanecendo como sede do papado até o ano de 1376.
Safras
As safras fazem total diferença em grandes vinhos. Em anos não muito bons é comum encontrar vinhos de excelentes produtores com um melhor custo, que mesmo com uma safra inferior, conseguem extrair o melhor dos seus vinhedos. Em anos excepcionais, onde os melhores produtos custam mais caro, até mesmo os produtores que não são tão bons fazem vinhos espetaculares, por conta da qualidade da safra.
Listamos as safras de 2009 a 2019, incluindo as safras históricas. Se algum dia estiver viajando e encontrar uma garrafa dessas, não pense duas vezes em comprar.
Safras de Châteauneuf-du-Pape de 2009 a 2019:
- 2009 – NOTA 09 – Pouca chuva e muitas horas de sol. Condições ideais.
- 2010 – NOTA 09 – Pouca chuva e muitas horas de sol. Condições ideais.
- 2011 – NOTA 08 – Choveu um pouco durante a colheita e tiveram algumas dificuldades com pragas.
- 2012 – NOTA 08 – Pouca chuva semanas antes da colheita.
- 2013 – NOTA 07 – Safra crítica, muitas dificuldades com pragas.
- 2014 – NOTA 08 – Safra muito boa e com um pouco de chuva na colheita que atrapalhou um pouco.
- 2015 – NOTA 10 – Safra excepcional. Todas as condições favoráveis.
- 2016 – NOTA 09 – Safra fantástica com pouca chuva durante a colheita.
- 2017 – NOTA 09 – Mais uma safra espetacular com alguns problemas com pragas.
- 2018 – NOTA 07 – As pragas do ano anterior atrapalharam a safra junto com chuvas fora de hora. Uma boa safra com custo benefício.
- 2019 – NOTA 09 – Se reerguendo de uma safra ruim, uma com quase 10 pontos.
A safra de 1990 é espetacular, um ano com todas as condições climáticas excepcionais, resultando em um vinho com muito potencial de guarda e que ainda hoje está maravilhoso. Outra grande safra nos anos 90 foi a de 1998, uma safra com muito calor e um vinho com taninos mais maduros. Na década de 2000, tivemos grandes safras de 2000 á 2007, com exceção da safra de 2002, que foi uma das piores desde 1992.